Quarta-feira, 19 de Março de 2008
Pai...
Nem sempre ouço da tua boca o que quero ouvir...
Nem sempre recebo de ti o que quero receber,
Nem sempre concordo com as tuas palavras
Ou atitudes que sejam...
Mas foi assim que cresci e me tornei na "mulherzinha" que hoje já me sinto...
Porque ser pai nem sempre é passar a mão pela cabeça e dizer que está tudo bem...
Hoje reconheço e agradeço do fundo do coração tudo que sempre fizeste por mim...
E foi muito...
Obrigado por me ensinares a caminhar
com os passos certos,
Por me dares a tua mão sempre que me deixei cair!
Obrigado por tudo pai...
Amo_te do fundo do coração...
De um pai que sempre desejou uma filha... e não teve.
Ela nasceu no dia em que o velho de desvarios morreu. Foi parida no exacto momento em que um exalante suspiro ecoou no quarto dos fundos da casa de repouso dos derrotados da vida. Vinha amarelecida, quase que carcomida por dificuldades engolidas em fase de gestação. Chorou um único lamento frágil, e desfez uma aura de alma desnutrida, que a envolvia numa nuvem arroxeada.
Fala-se em precipitações, considerandos desajustados com a realidade de uma morte anunciada. Mas o que se esperava era o inevitável. Que em paralelo a uma morte que se desejava, ocorresse um nascimento mal pensado. Uma concepção deslocada do tempo e do espaço. Quase que um acaso, que traz consigo arrependimentos de falácia.
Cobriu-se um rosto tranquilo. Fartas sobrancelhas grisalhas, quase cobriam as cavidades orbitais plácidas. Enrijecidas, supunha-se que tapavam uma paz de compromissos. Um deixar andar que, levado ao extremo, serviu para apagar a chama da vida rotineira.
Embalado por silêncios de conformismo, um novo ser foi limpo, e vestido com parcas vestes de modéstia forçada. Iria repousar, abandonado a si mesmo, enlevado em pequenas doses de amor-próprio. Coisas quase inexistentes, mas que a selecção natural teria de tornar fortes.
A cabeça do recém-nascido projecto é amparada. Instintivamente, quem provém alimento, tem também de o dar. Soltou-se um pequeno urro. Coisa quase imperceptível. A janela do esparso quarto abriu-se, e do nada irrompeu uma ave. Pousou no canto do berço de metal que não tine. E também aguarda.
A décima quinta fila de derrotados da vida foi encerrada. A cova já estava aberta, e a urna desce à terra. Começa a chover. Terá semelhanças com a Cavalaria Rusticana, o barulho das gotas de água a bater em jardins de mármore. Alguém pede a palavra num tímido aceno de mão.
- Quem desce à terra, é uma alma de desvarios.
Trinado de sereia. Nasceu uma mulher que não é mulher. É o que se lê das palavras escritas a tinta invisível na parede dos fundos onde se deu à luz uma criança que não chora. O pássaro voou. A menina desfalece. Não morreu, mas será deixada para esse fim no berço onde ainda, timidamente, esperneia.
O último torrão é assente. Pára de chover. Terão sido poucos os que estiveram, e ainda menos os que sentiram. O raio de sol mais inesperado da história desponta no horizonte. Anoitece, e se houve desvarios, evaporaram.
Um beijo para ti e um abraço ao teu pai
Fiquei sem palavras...
Muito obrigado pelo comentário e pela visita!
Será um prazer "vê-lo" por cá mais vezes...
Beijinho
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